21/02/2012

ENTREVISTA CONCEDIDA POR MIM À REVISTA IMPRESSA E DIGITAL ELEGANTE, QUE TEM CIRCULAÇÃO EM TODA REGIÃO DOS LAGOS.



Sexo: a realização com responsabilidade e prazer

Publicado em 17 de fevereiro de 2012

Que o carnaval apimenta as relações e o comportamento sexual é óbvio. E no Brasil, o mês de fevereiro é sempre o mais esperado pelos assanhadinhos de plantão, embora esse “fogo” sexual esteja presente no país o ano todo. A Elegante resolveu esquentar um pouco mais a relação com as leitoras e investiu na editoria de sexo, onde vai tratar de vários assuntos pertinentes ao “universo particular” das mulheres: porque são únicas, complexas e nem um pouco frágeis e buscam – sim! – o prazer para ter uma vida completa. Falando sobre sexo, Dra. Carolina Mendonça, psicóloga e sexóloga, responde a algumas perguntas sobre esse período caliente do calendário brasileiro:
“As mulheres são únicas, complexas e nem um pouco frágeis e buscam o prazer para ter uma vida completa”.

RE: Dra. Carolina, no Carnaval a tendência é que o comportamento das pessoas seja mais liberal. Focando a mulher, nosso público alvo, quais os perigos dessa liberação?

O carnaval aqui no Brasil, é uma festa diferenciada dos carnavais de outros países. Na verdade, o carnaval originou-se na Grécia por volta dos anos 600 a520 a.C., onde os gregos agradeciam aos deuses pela colheita. A Igreja Católica adota-o em 590 d.C. como um “adeus à carne”, do latim “carne vale” dando origem ao termo “carnaval”. Aqui no Brasil, foi influenciado pelos carnavais parisienses e, especificamente, o Rio de Janeiro, cria e exporta o estilo de fazer carnaval com desfiles de escolas de samba. Essa breve história esclarece-nos que o carnaval que temos hoje é um carnaval reinventado. O período tem sido para muitos como um refúgio, uma fuga de uma realidade dura ou um momento do ano ou da vida em que vale tudo. Funciona como válvula de escape, funciona para experimentar prazeres e emoções comumente inaceitáveis pela sociedade ou parte dela. Aí é que mora o perigo! Além da questão das drogas lícitas e ilícitas cujo acesso é facilitado durante o período de carnaval, muitas pessoas, inclusive mulheres usam o sexo para vários propósitos: como canal para lidar com frustrações; para melhorar uma performance sexual posteriormente com o namorado ou marido; ou pelo fato de viver grandes aventuras; ou simplesmente, porque é carnaval! As consequências vêm sempre depois, certo? O número de filhos gerados no carnaval é altíssimo. Acontece um verdadeiro “baby boom” de nascimentos no mês de novembro em vários lugares do nosso Brasil. E aí, eu te respondo de forma mais direta sobre os perigos dessa liberação: gestações difíceis agravadas por doenças adquiridas sexualmente, mães solteiras (já que muitas mulheres são incapazes de apontar a paternidade ou são ignoradas pelo parceiro sexual da época), as próprias doenças sexualmente transmissíveis como AIDS, sífilis, HPV, gonorreia, herpes, hepatite, candidíase, cancro mole, etc; e questões que vão além das consequências físicas, que envolvem o emocional. Como fica o relacionamento conjugal, por exemplo, onde um dos cônjuges viveu intensamente o carnaval? Como arcar com uma mágoa ou qualquer outro sentimento negativo?
As campanhas de sexo seguro estão aí na mídia, nas ruas, nas escolas o tempo todo. Mas a questão vai além do que é falado e mostrado. Para concluir, posso afirmar que os perigos dessa liberação vão além das consequências físicas. Vão além do prejuízo para a saúde. Vão além dos conflitos emocionais. Trazem consequências para a mulher como um todo. Então, a dica é repensar o carnaval.

“O período tem sido para muitos como um refúgio, uma fuga de uma realidade dura ou um momento do ano ou da vida em que vale tudo. Funciona como válvula de escape… Aí é que mora o perigo”.

RE. Em relação às campanhas de sexo seguro no carnaval. Estimular o sexo seguro estimula a prática do sexo casual?

Baseada na minha vivência como psicóloga, sexóloga, e especialista em relacionamento amoroso, tenho acompanhado e tomado ciência de que a partir da premissa de que “fazer sexo seguro não prejudica ninguém” um número muito grande de pessoas mantém relacionamentos casuais, sem nenhum tipo de compromisso a dois, especialmente entre a juventude. Jovens, de14 a30 anos de idade mais ou menos, vivem intensamente o sexo sem pensar muito nas consequências. Entre as pessoas mais maduras, o sexo casual também é rotineiro. Apesar das campanhas, a ideia de que fazer sexo com camisinha é como chupar bala com papel ou que a camisinha tira a sensibilidade peniana é bem frequente. Na verdade, a sensibilidade é diminuída, algumas mulheres ficam com irritações vaginais, camisinha mal colocada sai, camisinha fura e, não é 100% segura; mas tudo isso não é exposto por conta do perigo de doenças e gestações trazidas pelo sexo casual e/ou irresponsável. Bato na tecla de que a nossa sexualidade e o nosso corpo são especiais. Precisamos dele para termos uma qualidade de vida em que a saúde física, emocional e espiritual estejamem harmonia. Creioque o olhar sobre a sexualidade humana e sobre os relacionamentos amororosos como um todo deva ser feito sob um novo prisma. Concluindo, afirmo que a prática sexual tem sido estimulada na mesma medida em que se prega o sexo seguro, uma vez que a camisinha é exposta pela mídia e por outros canais como a solução para todos os empecilhos que outrora impossibilitavam uma relação sexual.

“Creio que o olhar sobre a sexualidade humana e sobre os relacionamentos amororosos como um todo deva ser feito sob um novo prisma”.

RE. O que você diz sobre a composição prazer – responsabilidade?

A nossa sexualidade é algo formidável. Um dos maiores prazeres que uma pessoa pode obter é proporcionada pelo sexo. A sexualidade é intrínseca ao ser humano. Para você ter ideia, em imagens ultrassonográficas, já podemos observar ereções penianas em bebês dentro do útero materno. Em meninas recém-nascidas observamos lubrificação vaginal. Nascemos seres sexuados e morremos assim. A nossa sexualidade só acaba com a morte. Não há como ser diferente. Como tudo na vida, precisamos ser responsáveis. Se você não for uma boa mãe para o seu filho, a vida lhe cobrará mais tarde. Se você não for um profissional responsável, seu negócio irá por água a baixo. Se você não for uma boa esposa, o casamento acabará, da mesma forma, se o homem também não for bom esposo. Veja bem: tudo o que semeamos hoje, colheremos amanhã. Assim, se a nossa sexualidade não é vivida com responsabilidade, colheremos as consequências, inevitáveis, na sua grande maioria.