20/03/2013

Crianças que se maquiam como adultos podem desenvolver problemas.


Maquiar e cuidar do cabelo e das unhas deve ser feito como brincadeira

por Mariana Bueno





É cada vez mais comum vermos concursos de beleza mirim, meninas produzidas como mulheres adultas, crianças vivendo cada vez menos a infância e começando cada vez mais cedo a teremvaidade. A psicóloga e psicopedagoga Eliana de Barros Santos, diretora do Colégio Global, em São Paulo, explica que brincar de se enfeitar é muito natural e saudável, mas é preciso fazer uso dessas ferramentas sem perder de vista o olhar lúdico do “faz-de-conta”. Lembrando que, nesses casos, devem ser usados produtos específicos para crianças, pois os produtos de uso adulto podem provocar reações inesperadas na pele, cabelos e unhas. “O adulto deve sinalizar que tudo não passa de uma brincadeira. As crianças podem até brincar de se maquiar, pentear e pintar as unhas mas que fique claro ser uma brincadeira, o que é diferente de se maquiar para sair, pintar as unhas para ficar mais bonita, ou mudar o cabelo para estar parecida com uma moça”, afirma.

As mães devem ter cuidado também para não influenciarem o comportamento das filhas, já que as crianças, em sua maioria, buscam seguir o modelo da mãe. “Quando a mãe se cuida, se enfeita e valoriza seus atributos físicos, a filha normalmente vai buscar imitá-la, principalmente nos primeiros anos da infância. Mas, ao permitir que a criança se “fantasie” de mulher adulta, a mãe estará agindo de forma equivocada e poderá confundir tanto a criança como o adulto que a vê pois estará mostrando uma mulher que ainda não existe na criança. Seria uma incoerência e um jogo perigoso expor a filha a olhares erotizados, com a comunicação de uma mensagem diferente daquela que realmente deve ser emitida. A criança é inocente e adota posturas erotizadas levada pelo desejo de imitar a mãe, mulher adulta que um dia ela deseja ser”, explica.

A psicóloga diz ainda que é comum que a mãe queira enxergar na filha seu reflexo, buscando ver a si mesma e, quando a filha não corresponde a sua expectativa, pode ver frustrado um desejo. Há algumas que insistem de forma muito incisiva para que a filha seja algo que ela não é, o que não é aconselhável, pois, assim, a mãe impõe a sua vontade, o seu desejo. “Respeitar o modo de ser da filha é um bom aprendizado para ambas. Sugiro que a mãe permita à criança vivenciar sua infância em toda sua plenitude, para que possa se desenvolver de forma equilibrada e protegida. Afinal, é função da mãe colocar normas e autorizar a filha a se tornar adolescente e depois mulher”, diz.
Esse comportamento precoce da criança pode trazer problemas no desenvolvimento, pois ela perde algumas etapas importantes na sua evolução e no surgimento da sua autonomia. “Há rituais importantes para marcar a passagem de uma fase a outra, como o primeiro sutiã, o sapato de saltinho, a primeira menstruação, etc, e cada um deve ser valorizado. A percepção das etapas do seu desenvolvimento proporciona tranquilidade e segurança. É semelhante à importância de se estabelecer rotina para o bebe, a criança sabe o que vem a seguir, conhece o caminho que vai percorrer e, dessa forma, sente-se protegida e segura para ir em busca do seu desenvolvimento”, explica.

Outro problema que pode ocorrer é de que a criança precocemente erotizada pelo uso de roupas e outros pertences do mundo adulto fique muito exposta e adote atitudes que não condizem com sua condição. Essa situação, segundo a psicóloga, gera crianças caricatas que, num futuro próximo, quando adolescentes, podem se apresentam amadurecidas demais, envelhecidas e, de certa forma, tristes por não terem exercido a sua infância, enquanto outras podem retroceder e viver como eternas meninas.
                                                                                                                    
             UOL