De acordo com a psicóloga Heloísa Schauff, essa repetição incômoda é humana e normal. "A maneira como a mãe fala sobre o mundo quando somos crianças tem uma enorme influência sobre nosso estilo de ver os acontecimentos, fazer as coisas e explicá-las", diz. A terapeuta sexual e de casais norte-americana Sandra Reishus, autora de "Putz! Virei a minha mãe!" (Ed. Carpe Diem), chama isso de "gene-mãe", uma espécie de herança que interfere nas mais diversas áreas da vida.
Para a psicóloga Marina Vasconcellos, o processo é uma espécie de "contágio psicológico" que pode até definir escolhas amorosas ou relativas à profissão. "Se a mãe, por exemplo, teve um casamento infeliz, mas nunca optou por romper a relação por causa da família, é possível que a filha internalize que amar envolve abnegação e sacrifício e se envolva em relacionamentos opressores. É uma escolha inconsciente".
Embora a figura materna seja a primeira e principal influência na vida dos filhos, esse "déjà vu" não é tão comum nos homens. A relação mãe e filha é bem mais complexa. Ao longo dos anos, as filhas quase que diariamente ouvem o que suas mães dizem e tendem a adotar o mesmo estilo e maneira de ser delas. "As meninas têm sua atenção totalmente voltada para a maneira e as emoções com que as mães falam dos acontecimentos. Elas observam atitudes, comportamentos e conclusões", diz Heloísa.
Segundo a psicóloga Rejane Sbrissa, nem sempre é possível perceber a reprodução de alguma atitude ou frase materna. É quando alguém --o parceiro, em boa parte dos casos-- nota ou critica a repetição que acontece a surpresa. "O incômodo é uma tentativa de negação. A pessoa quer acreditar que não agiu da mesma forma, mas irrita-se ao se dar conta de não conseguiu agir de outro modo", afirma Rejane.Como romper os padrões
O fato de a mãe ser, geralmente, a pessoa que melhor nos conhece na vida pode acabar nos tornando reféns dela. Assim, para muitas mulheres, não querer ser como a mãe e evitar cometer os erros dela seria, inconscientemente, uma forma de traição, que gera culpa. Mas é possível romper os padrões, viver da maneira que se quer e enfrentar os fantasmas maternos, sem magoar ou ofender a mãe. "É importante que se estabeleça a comunicação e o estabelecimento de limites de forma calma, assertiva e afetuosa entre mãe e filha. Isso ajuda a construir um diálogo que evidencia a parceria e o respeito", diz Heloísa.
É necessário também exercitar o discernimento. Para Marina, perceber a repetição de algumas frases ou ações até pode incomodar, mas nem tudo é grave. "Tente modificar aquilo que realmente atrapalha e chateia a si mesma e aos outros", diz. Prestar mais atenção nas ações que se admira na mãe também ajuda a lidar com o incômodo e até se orgulhar das reproduções de atitudes positivas.
Fonte: UOL