02/12/2010

Violência e trauma emocional


   A violência tornou-se, nos últimos anos, parte do cotidiano da vida de quem mora nas grandes cidades. Todos os dias sabemos pelos noticiários de casos de seqüestro, seqüestro-relâmpago, assalto, roubo, furto, abuso sexual e outros tantos tipos de crimes contra a pessoa. Praticamente todos nós conhecemos alguém na família, algum amigo ou conhecido que já sofreu algum tipo de violência.
   Essas pessoas, vítimas de um evento ou de uma situação traumática, podem desenvolver um quadro que hoje denominamos " transtorno de estresse pós-traumático " (PTSD, como é conhecida em inglês, post-traumatic stress disorder).
   Essa doença já é conhecida há muito tempo, tendo sido descrita antigamente com o nome de "neurose de guerra", pois era diagnosticada principalmente em soldados ou pessoas expostas a situações de guerra ou campo de batalha. Freud também descreveu esse quadro, relacionando alguns sintomas emocionais a traumas vivenciados anteriormente. Nos dias de hoje, com o aumento de múltiplas formas de violência na sociedade, o transtorno de estresse pós-traumático vem se tornando cada vez mais freqüente.
   Manifestações do transtorno de estresse pós-traumático: revivescência do trauma, hiper-reação física e esquiva e entorpecimento emocional.
   A pessoa exposta a evento traumático que envolveu risco de vida ou de lesão física grave e que reagiu com intenso medo, pavor, estresse ou sensação de impotência diante do evento, passa a reviver esse evento em sua mente de modo persistente (chamado "flashback").
   Imagens, lembranças, pensamentos voltam à mente mesmo contra a vontade da pessoa (fenômeno denominado "intrusão"). Muitas vezes um estímulo que relembre o evento (p. ex., um ruído) é suficiente para desencadear uma reação semelhante à que ocorreu no evento, mesmo que a pessoa saiba que não está exposta a nenhum perigo real. Passa a dormir mal, sonha com o evento traumático, acordando apavorada.
   O organismo desenvolve uma hiper-reação física aos estímulos ("estado de alerta"), como se estivesse sempre ameaçado de morte. Cada vez que isso acontece, desencadeia-se no organismo uma reação física de medo e estresse, com sudorese excessiva, falta de ar, palpitações, tontura, vertigem.
   A pessoa pode tentar evitar locais ou situações que estejam associadas ao trauma, restringindo sua vida diária (fenômeno de "esquiva"). Torna-se irritável, com dificuldade de concentração, dificuldade para conciliar o sono, estando sempre num "estado de alerta", como se algo fosse acontecer. Eventualmente sente-se como que "anestesiada", incapaz de sentimentos em relação aos amigos e familiares, indiferente às coisas ou pessoas que lhe traziam prazer anteriormente.
   Estima-se que aproximadamente 25% das pessoas expostas a uma situação traumática desenvolvam transtorno de estresse pós-traumático. Ele é duas vezes mais freqüente nas mulheres do que nos homens, calculando-se que ocorra em cerca de 10% da população geral. Usualmente, o transtorno de estresse pós-traumático dura alguns meses, mas em cerca de 50% dos casos pode persistir por anos e dominar a vida da pessoa.
   Com freqüência, associam-se ao estresse pós-traumático outros transtornos mentais, como depressão, síndrome do pânico, ansiedade crônica e abuso ou dependência de álcool e drogas, além de doenças psicossomáticas. Em casos mais graves, podem ocorrer idéias de suicídio.


Prof. Dr. Mario R. Louzã

Psiquiatra